É possível contar uma história de amor sem que o casal de protagonistas se encontre durante todo o livro — a não ser na última página? E tampouco se fale, ou se escreva, ou envie um emoticon pelo Whatsapp? Sem que um saiba sequer o que foi feito do outro?
Eu nunca tinha pensado que seria, mas Gayle Forman conseguiu me provar ao contrário. Se, em Apenas um dia, sobre o qual escrevi aqui, já tinha me surpreendido a capacidade da autora de fazer o mocinho Willem De Ruiter ser tragado pela terra durante a maior parte do livro, na continuação Apenas um ano a experiência é ainda mais potente. Porque, sob o ponto de vista de Willem, nem mesmo as lembranças das 24 horas passadas em Paris com Lulu são claras, quanto mais a existência de uma Alysson Hayley concreta vivendo do outro lado do oceano. Mas, se, por um lado, ele não recorda nem conhece todas as informações — nem mesmo o nome verdadeiro de sua Lulu —, por outro, ele sabe que a experiência que teve com ela foi real e que, de certa forma, mudou sua vida.
Não é exagero dizer que, como seu antecessor, Apenas um ano é menos uma história de amor tradicional, com todos os seus clichês, e mais uma jornada de autoconhecimento. Descobrimos as razões para as sistemáticas tentativas de desapego de Willem, da perda do pai até a relação conturbada com a mãe. E descobrimos ainda que, no seu aparente desprendimento, ele também é um garoto carente encantado e, ao mesmo tempo, apavorado com a perspectiva de uma história de uma paixão tão forte e tão inusitada quanto aquela que uniu Yael e Bram, de cujo amor ele nasceu. Mas quem é, afinal, a garota que conseguiu, em único dia, despertar nele sentimentos que muitos não conseguem sentir ao longo de toda uma vida? E, para usar um outro título da autora, para onde ela foi?
Para os que anseiam pelo reencontro entre Willem e Allyson/Lulu, não se iludam: o final é o mesmíssimo do primeiro livro e não fui hiperbólica ao abrir este texto dizendo que ela só aparece no fim. Apenas um dia sai do encontro dos protagonistas para se concentrar na história de Allyson após aquele dia, mas a história de Apenas um ano é toda de Willem. Suas dúvidas, suas descobertas, seu amadurecimento. Lulu está presente o tempo todo, é verdade, mas como uma espécie de entidade incorpórea, uma força que o move. Força que, tão logo terminem de ler este livro, vai mover a todos para o esperado desfecho que ficou para o conto Apenas uma noite. Tenho certeza.