120 ANOS DE CINEMA – ANTES | KINOS

28 de dezembro de 1895, no Café Indien do Boulevard des Capuccines, em Paris, nasceu o cinema. Ali foi a maternidade, mas a gestação durou séculos. Compensou, pois nasceu a poucos anos de ter um século sob sua influência. Além de incorporar o som, dar as mãos ao rádio e influenciar a televisão, dialogou com todas as linguagens narrativas que o século XX viu e, agora maduro, não deixa de jogar com os apetrechos do XXI.

078 - Trem

- publicidade -

Este é o primeiro de uma série de 13 textos para celebrar as 12 décadas de luz, câmera e ação. Para cada um dos seguintes, uma década (no primeiro teremos de 1895 a 1905, depois vamos de 10 em 10), com destaque de um filme por ano, apresentado com nome, diretor e duração, seguido por comentários sobre sua importância.

Esta sequência de textos tem mais relação com dizermos que houve uma gestação do cinema do que um nascimento propriamente dito. A data, 28 de dezembro, é considerada o parto porque neste dia houve a reunião de pessoas, o cartaz que anunciou, as distintas sequências de imagens, enfim, o espetáculo. Todos esses elementos já existiam, mas foram reunidos ali naquele dia. É como a invenção da imprensa por Gutemberg, que soube juntar existências ao invés de tentar inventar algo, e acabou entrando pra História.

Antes daquele final de ano, o cinema existia nos jogos de sombras das cavernas bem antigas e nas invenções de Thomas Edison, sem esquecermos Platão e sua premonitória alegoria. A pintura e a escultura, assim como os museus e diferentes formatos de exposição, ajudaram a educar o público pro cinema, e sobre isso um bom livro a ser lido é O cinema e a invenção da vida moderna, da recém-fechada editora Cosac&Naify, fruto de querer refinar livros num país que não sabe ler.

- publicidade -

Movimentos dos estudiosos da fotografia ajudaram no desenvolvimento dos últimos antecedentes do cinema. Gosto do desafio de Edward Muibridge sobre as patas do cavalo e da forma engenhosa que usou pra dispor as câmeras e fazer as tantas fotos que, em sequência, davam a ilusão de movimento. O mesmo efeito é hoje chamado de bullet time, tudo uma questão de décadas e fundo verde.

Os espetáculos de fantasmagoria também foram ótimos pra ensinar o público a acreditar nas ilusões apresentadas em cena. Fantasmas, fogo e jogos de luzes e espelhos faziam melhor do que muito computador consegue até hoje. Desde as primeiras histórias o interlocutor sabe que aquilo não é real, mas acredita no oposto, faz parte do pacto criado naquele espaço.

Se teatro de sombras ou câmara escura, se desenhos folheados no canto do caderno ou girados num disco pros olhos de um único espectador, tudo isso é cinema em potência, óvulos e espermas esperando alguém botar pra… corta!

A homenagem destes 13 textos à sétima arte é, mais do que uma vontade de encontrar o melhor, apontar alguns momentos interessantes através da sugestão de filmes. Alguns pela própria obra, outros por uma cena, alguns pelos bastidores implicados em sua realização ou em suas consequências. Para isso, o leitor muitas vezes vai se incomodar com os filmes escolhidos pra representar cada ano.

Em 1895, por exemplo, uma escolha óbvia seria Chegada do trem à estação, que traz junto a história de que o público saiu correndo do comboio que se aproximava da tela. Já seria uma razão pra escolha do curta, que também traz, como disse Georges Sadoul, todos os planos do cinema em uma só tomada. Também dos Lumières, Saída da fábrica seria um outro possível título pro primeiro ano, uma das primeiras cenas filmadas pelos irmãos e refilmada algumas vezes, sempre com várias ações ocorrendo em uma só tomada, num verdadeiro plano-sequência. A opção do ano, no entanto, foi outra e não se pode dizer qual é o melhor filme ou o mais importante pro desenvolvimento das imagens na telona.

- publicidade -

Certamente algumas obviedades acontecerão, mas não por serem figurinhas fáceis nos manuais dos cinéfilos e estudiosos, mas por as obras terem esse status justamente porque são relevantes. Diretores podem ser repetidos, enquanto outros nem citados, o que não diminui ninguém. Cada filme até hoje feito influenciou alguém e faz parte dessa trajetória. Os antigos podem ser encontrados até no YouTube e são bem curtinhos. E como o texto é livre, mesmo que um filme seja o escolhido daquele ano, outros podem ser citados. Por fim, outro critério de seleção é eu ter visto o filme. Ou saber iludir muito bem sobre isso. Ação!

- publicidade -

Notícias Relacionadas

Últimas Notícias

- publicidade -